Água de beber
Inodora,
incolor e insípida, a água é também medicinal. Descubra se é realmente
necessário consumir dois litros diários, conheça os diversos tipos e
qualidades disponíveis no mercado, aprenda a melhor maneira de armazenar
e entenda o que dizem os rótulos
por Fernanda de Almeida
Você toma pelo menos 2 L de água por dia? Se sua resposta foi
não, fique tranquilo, talvez você realmente não precise de toda essa
quantidade diária. Pelo menos foi isso que revelou um estudo recente
publicado pelo site do Jornal de Medicina Britânico. Segundo a
pesquisadora Margaret McCartney, ingerir a bebida quando não se está com
sede pode trazer uma série de prejuízos ao corpo, como explica o
gastroenterologista Ricardo Portieri, do Hospital Bandeirantes (SP): "O
consumo excessivo de água pode levar à baixa concentração de sódio no
sangue, chamada de hiponatremia, ou à sobrecarga renal".
O clínico geral Paulo Olzon, da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp), concorda: "Ninguém precisa ficar atento à quantidade de ar
que respira. Com a água devemos ter a mesma relação. O corpo pede quando
sente necessidade; é para isso que sentimos a sede, para satisfazer uma
necessidade momentânea e repor os líquidos que perdemos na urina e no
suor, por exemplo". Definir uma quantidade de água a ser ingerida por
dia é equivocado, já que isso varia de acordo com idade, sexo, peso,
atividade física, clima e até mesmo a genética de cada um.
Boa para beber
Existem basicamente três tipos de água comercializados e que
podemos consumir: a mineral, que é subterrânea; a purificada de sais,
famosa água da torneira, que é tratada artificialmente, não sendo
necessariamente de origem subterrânea; e a natural, que é captada da
mesma forma que a mineral, mas que não possui suas propriedades. "A
diferença entre a água mineral e a natural é que a primeira tem certos
elementos, teores de sais minerais, que lhe dão uma qualidade
terapêutica e medicamentosa, o que não ocorre com as águas comuns. E a
diferença entre a água mineral e a da torneira é que a última não tem
função terapêutica específica, porém possui os mesmos eletrólitos como o
sódio, cálcio e potássio", define Portieri.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem regras
definidas para o transporte e o comércio de água. Os veículos devem
estar limpos e cobertos para evitar a luz ou a umidade da chuva. Os
locais de armazenamento e comércio também devem estar limpos, secos e
ventilados, com temperatura adequada e protegidos da incidência da luz,
principalmente solar. Portieri explica que "a luz solar contribui para a
excessiva proliferação de algas na água. Em excesso, esses organismos
podem alterar a cor e o gosto do líquido e até mesmo causar problemas de
saúde como mal-estar, febre, vômitos e diarreias".
Refresca e faz bem
Todos os seres vivos podem e devem tomar água, pois o corpo
humano é composto por 70% desse líquido. "Repo-lo por meio da água
potável - que podemos beber - ou de alimentos é fundamental para a
manutenção do volume de líquido corpóreo, controle da temperatura
corporal, transporte de nutrientes pelo corpo, digesagua tão de
alimentos e eliminação de substâncias não utilizadas. Uma pessoa
sobrevive sem se alimentar por muitos dias, mas sem hidratação pode
morrer em poucos dias", afirma Camila Torreglosa, nutricionista do
Hospital do Coração (HCor - SP).
A diferença entre a água mineral e a
da torneira é que a última não tem função terapêutica específica, porém
possui os mesmos eletrólitos como o sódio, cálcio e potássio
Talvez você já tenha reparado que existe uma infinidade de opções
de tipos de água nas prateleiras de supermercado. Segundo Camila, todas
as águas possuem pH neutro e contêm minerais (flúor, cálcio, cloro,
enxofre, ferro, magnésio, manganês, potássio e sódio) e oligoelementos
(cádmio, cromo, cobre, chumbo, mercúrio, selênio). "Isto vai depender
muito de sua origem na natureza, já que os elementos que encontramos na
água são, em sua maioria, provenientes de recursos naturais comum nas
rochas e sedimentos subterrâneos. Um fator fundamental para a saúde é
comparar e escolher a água cujo rótulo indica baixa quantidade de sódio
por litro", sugere a nutricionista.
O que os olhos não veem...
O corpo sente. Pelo menos quando o assunto é água potável. Há
anos pesquisadores observam as substâncias contidas nas águas que
ingerimos (natural, mineral ou da torneira), a fim de entender se há
relação desses compostos com problemas de saúde.
Um deles é Wilson Jardim, químico da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp): "Existe uma série de substâncias que encontramos na
água em pequenas quantidades e que, segundo a legislação atual
brasileira, não são proibidas. Ainda não sabemos ao certo quais as
consequências do consumo desses componentes a longo prazo, mas já há
dados concretos mostrando que eles afetam comunidades aquáticas",
explica.
Nos testes já realizados, foram encontrados hormônios sintéticos e
naturais, fármacos, resquícios de produtos de higiene pessoal,
antibióticos, fragrâncias, detergentes, entre outros elementos. Isso
tudo nas águas potáveis disponíveis, ou seja, não estamos seguros quanto
à qualidade do que ingerimos. E, pelo menos até agora, não há nada que o
cidadão possa fazer para ter uma água melhor.
"Tem sido cada vez mais comum o diagnóstico de inflamação de
tireoide, por exemplo. O que era um problema essencialmente feminino tem
afetado um número crescente de homens. Alguns estudos relacionam o
aumento desse mal ao excesso de iodo - cujo consumo cresceu
drasticamente nos hábitos alimentares dos humanos. Alguns pesquisadores
relacionam o iodo em excesso à água da torneira, que contém um valor
elevado dessa substância", explica o clínico geral Paulo Olzon. Para
Jardim, o Ministério da Saúde precisa investir em pesquisas e certificar
a qualidade da água que os brasileiros bebem. "A legislação vigente é
antiga, e precisa ser revista", conclui o especialista.
Revista Viva Saúde
http://revistavivasaude.uol.com.br/saude-nutricao/102/agua-de-beber-inodora-incolor-e-insipida-a-agua-235488-1.asp